15 de dezembro de 2010

Plural dos substantivos compostos

Na primeira postagem, introduzi o assunto dizendo que não era uma tarefa fácil pluralizar os substantivos compostos e que requereria uma atenção especial a algumas regras.

Nesta segunda e última postagem sobre o tema, vou falar sobre a pluralização em compostos formados por palavras invariáveis (advérbios, prefixos), por verbos e situações em que o composto não varia totalmente.

1. Substantivo compostos em que somente o segundo elemento varia. O segundo elemento da composição varia nas seguintes formações:
a) verbo + substantivo: beija-flor – beija-flores; quebra-mar – quebra-mares; guarda-chuva – guarda-chuvas; bate-boca – bate-bocas.
b) palavra invariável + substantivo: vice-presidente – vice-presidentes; ex-presidiário – ex-presidiários; alto-falante – alto-falantes;
c) grão, grã e bel + substantivo: grã-duquesa – grã-duquesas; grão-duque – grão-duques; bel-prazer – bel-prazeres.
d) compostos de três ou mais elementos, sem preposição: bem-te-vi – bem-te-vis.

2. Substantivo composto formado por verbos repetidos. Neste caso, ambos os elementos vão para o plural ou somente o segundo:
• bule-bule – bule-bules ou bules-bules;
• corre-corre – corre-corres ou corres-corres;
• pega-pega – pega-pegas ou pegas-pegas.

3. Substantivo composto invariável. Há situações em que o substantivo composto fica totalmente invariável. Vejamos:
a) Substantivo composto por verbos não repetidos: os perde-ganha; os leva e traz.
b) Quando o segundo elemento do substantivo composto já estiver no plural: os troca-tintas; os quebra-nozes; os salta-pocinhas; os espirra-canivetes.
c) Quando o substantivo composto é formado por verbo + advérbio: os bota-fora; os pisa-mansinho; os bota-abaixo.

4. Existem frases substantivas presentes no nosso vocabulário e estas não variam: as estou-fraca; os não sei que diga; os disse me disse; os bumba meu boi.

2 de dezembro de 2010

Concordância verbal com o verbo "ser"


Uma aluna deixou um comentário, pedindo que tirasse uma dúvida sobre a concordância verbal certa em uma frase com o verbo “ser”. Percebi que isso poderia ser uma dúvida para mais pessoas que leem a seção de Dicas de Português no blogue da minha empresa. Pensando nisso, resolvi escrever uma postagem sobre o assunto.

Antes de ensinar a concordância verbal do verbo “ser”, vamos conhecer um pouco da sua sintaxe.

O verbo “ser” é um verbo de ligação, presente em predicados nominais. Sua função é fazer a ligação entre o sujeito e o predicativo do sujeito. Veja um exemplo bem simples:

Maria é bonita.
    Sujeito  Verbo de   Predicativo do
                   ligação          sujeito

Percebem que o verbo “ser”, conjugado na terceira pessoa do singular, faz a ligação entre o sujeito “Maria” e o predicativo do sujeito “bonita”, dando uma característica ao sujeito.

Agora que sabemos a função sintática do verbo “ser”, vamos conhecer as regras para se fazer a concordância verbal com ele:

1. Quando houver nome de pessoa, o verbo “ser” concordará obrigatoriamente com ele, independente de este nome poder atuar como sujeito ou predicativo do sujeito; o mesmo acontece quando há um pronome pessoal do caso reto:

Nós somos os culpados.

Os culpados são eles.

Juliana era as esperanças do time.

As esperanças do time eram Juliana e Mariana.

2. Quando o sujeito é um pronome indefinido “isto”, “isso”, “aquilo”, “tudo” ou “o” (pronome demonstrativo “aquilo”) e o predicativo do sujeito estiver no plural, o verbo “ser” concordará com este predicativo.

Tudo são flores.

Aquilo eram lembranças muito tristes.

Tudo na vida são verdades de relação.

3. Quando o sujeito for um pronome interrogativo “quem” ou “que”, o verbo “ser” concordará obrigatoriamente com o predicativo do sujeito:

Quem foram as pessoas que vieram nos assistir hoje?

Que é sinônimo?

Que são verbos de ligação?

4. O verbo “ser” concordará com o predicativo do sujeito quando este representar hora ou data, sendo, portanto, uma oração impessoal.

São duas horas da tarde.

É meio-dia em Brasília.

São 17 de maio deste ano.

Observação. Na oração “Hoje é dia 17 de maio deste ano”, o verbo “ser” concorda com o predicativo “dia” e não com o numeral “17”.

5. Quando o sujeito for uma expressão de sentido coletivo como “o resto”, “o mais”, “o restante”, o verbo “ser” concordará com o predicativo do sujeito:

O resto são alimentos estragados.

O mais são apartamentos de luxo.

6. Em expressões como “é muito”, “é pouco”, “é suficiente”, “é bastante”, que denotam quantidade, distância, peso etc., o verbo “ser” permanece no singular:

Cem metros é muito.

Dois reais é pouco.

Última entrevista de Clarice Lispector


No programa 30 Anos Incríveis, transmitido pela TV Cultura e apresentado por Gastão Moreira, foi apresentada a última entrevista com Clarice Lispector ao jornalista Junio Lerner para o programa Panorama, em 1977.

A entrevista está dividida em cinco vídeos. Confiram e se deliciam com esta raridade.


Primeira parte


VuuTV - Watch Video


Segunda parte

VuuTV - Watch Video


Terceira parte


VuuTV - Watch Video


Quarta parte

VuuTV - Watch Video


Quinta parte

VuuTV - Watch Video

Oportunidades no mercado de tradução literária




Entre os nativos e aqueles que a utilizam como segunda língua, perto de 270 milhões de indivíduos no mundo falam o português. Os falantes do mandarim estão no topo dos idiomas mais falados (1,7 bilhões), vindo depois o inglês, com 1,375 bilhões (375 milhões nativos, mais um bilhão de outros), seguido do hindi e do espanhol, com seus 511 milhões (406 nativos, mais 105 de outros). Dados de 2010, fornecidos apela Internet World Stats, mostram que na Internet o inglês continua mantendo a dianteira, com 42% de penetração. Todavia, parece que esse quadro não permanecerá por muito tempo.

De 2000 a 2010 a língua inglesa teve um crescimento de usabilidade na Web de 281%, porém, o espanhol teve 741% de crescimento, o português 989%, sem falar, é claro, do mandarim, que cresceu no mesmo período 1.270%. Nada mal para um planeta que já chega a ter perto dos 2 bilhões de usuários na Internet, que já ultrapassou o número de 125 milhões de blogs online, e onde o YouTube, por exemplo, descarrega a cada 60 segundos 24 horas de vídeo. Nesse cenário, o crescimento do idioma português gera forte demanda por tradutores, intérpretes, revisores e pelos demais profissionais que de alguma forma atuam nessa área. A tradução literária está na pauta emergencial do Brasil e de quase todos os grandes países.

Nos últimos 20 anos, o mercado editorial brasileiro cresceu muito, e segundo o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), mais de 70% das obras são traduções. Só na área de informática, por exemplo, onde o Brasil é um dos maiores consumidores de produtos (só perde para os EUA, Japão, Canadá e Alemanha), a demanda de tradução continua alta (incrementada pela chamada “localização”, quando é necessário customizar o texto às condições locais). Ainda que as ferramentas de tradução online se multipliquem (só alcançam hoje algum resultado na literatura técnica), é difícil imaginar que o profissional de tradução possa não ter seu futuro garantido.

O Brasil já está entre os dez países que mais produzem livros no mundo, sendo responsável por cerca de 50% de todas as obras editadas no continente. Embora a crise econômica de 2008 tenha maculado diretamente o mercado editorial mundial, a tendência é de recuperação na próxima década, principalmente com a expansão do mercado digital. Se no Brasil a demanda cresce de fora para dentro, com a entrada crescente de títulos estrangeiros, é preciso que cresça de dentro para fora (rápido). As “correntes sanguíneas” das obras produzidas em idioma luso, ainda hoje acanhadas, dão sinais de significativa expansão nos próximos anos.

No Brasil, eventos diretos (Feira de Frankfurt, a maior vitrine editorial do mundo, que homenageia o país em 2013), e indiretos (Copa do Mundo, Olimpíadas, etc.) também turbinam o interesse por nossa literatura, carregando na boléia a necessidade de profissionais de tradução para curto e médio prazo (no longo prazo – duas décadas – só os deuses sabem). Sem falar na tendência mundial de reeditar clássicos a partir de seus idiomas originais, seja por questões de direitos autorais ou pelo interesse dos leitores que valorizam as traduções baseadas na língua-mãe do autor. Sempre é bom lembrar que, embora a qualidade das traduções nacionais tenha melhorado muito nos últimos anos, ainda existe um gap qualitativo alto quando a língua original está no grupo das “pouco difundidas”.

Assim, o mercado demanda tradutores, bons tradutores. Na literatura técnica, os softwares de tradução estão chegando e talvez possam até ajudar, mas na prosa, poesia, nos ensaios, na literatura romanesca, o tradutor é insubstituível. A nova demanda tem consequência imediata, por exemplo, na formação oferecida aos tradutores e especialistas em diversas culturas menos difundidas. O tradutor Marco Sirayama de Pinto, professor da USP, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, explicou que a tradução dos primeiros romances turcos modernos, vertidos no Brasil diretamente da língua original como “As preces são imutáveis” (2010), de Tuna Kiremitçi, e, “A palavra perdida” (2011), de Oya Baydar (ainda não disponível), ambos traduzidos por ele, foi uma dificuldade: “As estruturas das duas línguas são completamente diferentes”. Mas o caminho é irreversível para esse idioma. O Nobel de 2006 ofertado ao turco Orhan Pamuk, por exemplo, só fez crescer o interesse por sua obra e pela cultura de seu país, sendo que no Brasil seus livros foram vertidos indiretamente, do inglês ou do francês, pela dificuldade de se encontrar tradutores.

A formação de um bom tradutor não é algo simples ou rápido, pelo contrário, alcançar experiência e credibilidade nesse mercado pode demorar uma década, mas a boa notícia é que a demanda é crescente e estável, principalmente no que se refere à literatura não-técnica. O tradutor é parte integrante da obra (chega a ser co-autor) e é uma ponte segura para suas chances de sucesso. Há alguns anos podíamos dizer que os profissionais da tradução literária não eram tradutores, mas estavam tradutores, pois faziam desse trabalho um apêndice de sua vida laboral. Embora isso ainda aconteça, é cada vez maior o número de profissionais dedicados à tradução, para honra e glória da literatura universal.

Fonte: Blog da Cultura