31 de agosto de 2012

Jogos Paralímpicos ou Paraolímpicos?



Amo Jogos Olímpicos e confesso que ficava grudada na televisão assistindo a grandes performances atléticas (algumas não tão grandes), principalmente do jamaicano voador, Usain Bolt, do qual virei fã.

Encerrados os Jogos Olímpicos, entram em cena atletas com necessidades especiais que admiro muito, principalmente os da natação. Mas, ao ler os noticiários, podemos perceber que não são mais Jogos Paraolímpicos, mas Paralímpicos.

A mudança da palavra aconteceu no final do ano passado para se adequar ao modelo internacional. Será que isso é bom para nossa língua? Para esclarecer o assunto, vejam o texto que peguei do Veja on-line
Sai paraolímpico, entra paralímpico 
Muita gente só se deu conta da novidade quando, a certa altura da cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres, domingo, foi anunciada a realização dos Jogos Paralímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. 
Espera aí: “paralímpicos”?! Os jogos não deveriam ser “paraolímpicos”, como sempre foram?  
Não se tratava de erro de digitação. Em novembro do ano passado, quando foi divulgada a logomarca do evento, o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), assim chamado desde sua fundação, em 1995, aproveitou para anunciar que estava trocando de nome “para se alinhar mundialmente aos demais países”. Para tanto, deixava um o pelo caminho, tornando-se oficialmente o Comitê Paralímpico Brasileiro. Na mesma data, estipulava um prazo de 18 meses – que vence em maio do ano que vem – para que as entidades a ele filiadas se atualizem ortograficamente. 
Na prática, isso significa que a palavra “paraolímpico” tem seus dias contados. Normalmente não é tão grande o poder de entidades reguladoras sobre a língua que as pessoas de fato falam. Neste caso, porém, trata-se de um campo ainda em processo de organização e que depende pesadamente da esfera oficial. Isso me leva a prever que a velha grafia “paraolímpico” não terá a menor chance, embora a forma “paralímpico” ainda nem apareça em nossos dicionários ou no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.  
Estamos diante de uma vitória da globalização sobre o espírito de nossa língua. Isso é bom? Ruim? Tanto faz? Depende do aspecto que se decida enfatizar. Antes que a nova grafia se torne tão natural que a história da palavra vire uma curiosidade de museu, convém recapitular sumariamente sua trajetória. 
A palavra paraolímpico foi formada a partir da junção do prefixo de origem grega para (de paraplegia) com o adjetivo olímpico. Se hoje não interessa ao movimento paraolímpico enfatizar a relação com a paraplegia que está na origem do termo, mesmo porque abarca muitos outros tipos de deficiência, cabe à etimologia registrar isso. 
Desde 1960, quando 400 atletas disputaram em Roma os primeiros – e oficiosos – Jogos Paraolímpicos, o campo paradesportivo caminhou do amadorismo abnegado para o profissionalismo. Compreensivelmente, hoje o site do Comitê Paralímpico Internacional – fundado em 1989, um ano após os Jogos Olímpicos de Seul empregarem oficialmente a palavra pela primeira vez – prefere explorar a riqueza semântica de ‘para’, que segundo o Houaiss pode indicar, além de defeito, proximidade e semelhança: 
A palavra ‘paralímpico’ deriva da preposição grega ‘para’ (ao lado) e da palavra olímpico. Significa que os Jogos Paralímpicos se realizam paralelamente aos Olímpicos e ilustra o modo como os dois movimentos existem lado a lado.  
O comitê internacional é “paralímpico” desde sempre. O português, fundado em setembro de 2008, também já nasceu com essa grafia, contrariando o parecer encomendado na época pelo Instituto do Desporto à linguista Margarita Correia. “Será mais consentâneo com a estrutura da língua portuguesa (…) que o termo em causa mantenha a vogal inicial ‘o’ da palavra ‘olímpico’”, opinou ela, adotando uma posição que me parece linguisticamente irrefutável. A palavra que deveria permanecer íntegra é “olímpico”: se fosse o caso de contração, que se criasse “parolímpico”. Paralímpico soa simplesmente errado em nosso idioma.
Claro que agora é tarde. O Brasil resistiu por muitos anos, mas, sem o apoio de Portugal, ficou difícil conter a onda internacional. Vamos de paralímpico, paciência. Mas que é esquisito, é.
Veja on-line, 31.08.2012.

27 de agosto de 2012

Mousse para os meus olhos


  
Ao ler uma notícia em um jornal on-line, fiquei sabendo que podemos utilizar a palavra mousse como substantivo masculino. Vejam:


Então, consultei os dicionários e o VOLP para ver se a palavra, que sempre foi um substantivo feminino, se tornou masculina. Vejam o que encontrei, na versão em português:


Dicionário Aurélio

Dicionário Houaiss


VOLP

As pessoas estão acostumadas em falar e ouvir “o mousse disso”, “o mousse daquilo. Porém, segundo os dicionários e o VOLP, mousse - palavra francesa que significa “espuma” em português - é um substantivo feminino: a musse. 

A palavra francesa também é feminina, como afirma o VOLP: 


Acredito que a pronúncia da palavra faz com que as pessoas falem ou escrevam no masculino: o mousse. O jornalista precisa escrever corretamente, como mandam os dicionários e o VOLP. Do contrário, as pessoas continuarão a ler e escrever de maneira errada. Não custa nada consultar o dicionário, não é?

22 de agosto de 2012

Um gato na revisão de textos



Quando se fala em erro, na nomenclatura do revisor de texto, existe o termo “gato”, que é a troca de palavra por outra. Vejam como isso pode prejudicar um trabalho na hora da revisão através de um texto do professor Eduardo Frieiro (1889-1982):
Quando Ramalho Ortigão esteve no Rio de Janeiro, a direção da Gazeta de Notícias, que era então o matutino mais lido pela população carioca, solicitou do escritor português um artigo de colaboração destinado a uma edição especial. O artigo foi escrito e apareceu com o título “O pássaro e as penas”, título que a muitos leitores causou estranheza, pois no artigo não se fazia a mínima alusão nem a pássaros nem a penas. No dia seguinte o jornal explicava o fato, retificando: “Por um engano de revisão”, dizia a corrigenda, “saiu deturpado o título do artigo do nosso ilustre colaborador senhor Ramalho Ortigão, que publicamos ontem. Onde se lê O pássaro e as penas devia-se ler O pássaro e o presunto”. Foi pior a emenda que o soneto. O título não era ainda esse, mas simplesmente O passado e o presente.
A construção do livro, 2008, p. 367

20 de agosto de 2012

Dúvida de um jornalista: Infraestrutura ou Infra-estrutura?



Hoje, ao ler uma matéria em uma revista on-line dessa semana, deparei-me com uma dúvida do jornalista ao escrever uma palavra. Ele não sabia se o correto era infraestrutura ou infra-estrutura. Por isso, escreveu as duas formas. Veja:


 
Na produção de textos, sempre padronizamos as palavras, se houver duas opções. No caso dessa palavra, só existe uma forma correta.

Um dia, essa palavra era escrita dessa maneira: infra-estrutura. Mas, com a nova ortografia, agora é infraestrutura. Segundo a nova regra, prefixos terminados com vogal (infra, anti, ante, socio etc.), quando se juntam ao segundo elemento iniciado por qualquer vogal que não seja a mesma do final do prefixo, não pode haver hífen (socioeconômico, antialcalino, infraestrutura etc.); se o segundo elemento iniciar-se com “h” ou com a mesma vogal final do prefixo, há separação com hífen (anti-higiênico, ante-hipótese, infra-assinado etc.).

Portanto, o correto seria infraestrutura, caro jornalista. Na dúvida, é só consultar um dicionário atualizado com a nova ortografia ou o VOLP. Simples assim.